Chefe da ONU diz que incertezas do Covid-19 devem despertar solidariedade do mundo

António Guterres, secretário-geral da ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse nesta quinta-feira, 19 de março, que o mundo está “enfrentando uma crise de saúde global diferente de qualquer outra nos 75 anos de história das Nações Unidas.”

Em mensagem, transmitida pela internet, ele afirmou que a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) está “espalhando o sofrimento humano, infectando a economia global e revirando a vida das pessoas.”

Para o chefe da ONU, “uma recessão global, talvez de dimensões recorde, é quase certa.”

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) informou esta semana que trabalhadores de todo o mundo podem perder até US$ 3,4 trilhões até o final deste ano.

Guterres afirmou, no entanto, que esta é, “acima de tudo, uma crise humana que exige solidariedade.” Segundo ele, “as respostas atuais em nível nacional não resolvem a escala e a complexidade globais da crise.”

Resposta

O secretário-geral afirmou que esse momento “exige ação política coordenada, decisiva e inovadora das principais economias do mundo.” Segundo ele, os países mais pobres e as pessoas mais vulneráveis, especialmente mulheres, serão os mais atingidos.

Os líderes dos 20 países mais industrializados do mundo, conhecidos como G-20, convocaram um encontro de emergência para a próxima semana. António Guterres irá participar.

O secretário-geral levará a mensagem de que “o mundo está em uma situação sem precedentes e as regras normais não se aplicam mais.” Ele acredita que a crise pode representar uma “oportunidade única”.

Segundo ele, os líderes mundiais podem “orientar a recuperação em direção a um caminho mais sustentável e inclusivo.” Se isso não acontecer, “políticas mal coordenadas podem travar, ou até piorar, desigualdades já insustentáveis, revertendo ganhos de desenvolvimento conquistados com muito esforço e ganhos de redução da pobreza.”

Ação

O secretário-geral identificou depois três áreas críticas para ação. Primeiro, lidar com a emergência de saúde.

Muitos países excederam a capacidade de atender casos leves, com muitos incapazes de responder às enormes necessidades dos idosos. Mesmo nos países de alta renda, os sistemas de saúde estão sob pressão.

Guterres afirmou que “os gastos com saúde devem ser ampliados imediatamente para atender às necessidades urgentes e ao aumento da demanda.” Testes devem ser expandidos, instalações reforçadas e profissionais de saúde apoiados.

O chefe da ONU repetiu que “está provado que o vírus pode ser contido” e que essa deve ser uma prioridade. Segundo ele, se os governos deixassem que o vírus se espalhasse, ele “mataria milhões de pessoas.”

Ele disse que governos devem dar o maior apoio ao esforço multilateral, liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para Guterres, “a solidariedade global não é apenas uma exigência moral, é do interesse de todos.”

Economia

Em segundo lugar, o mundo deve focar no impacto social e na resposta e recuperação econômica.

Ao contrário da crise financeira de 2008, “injetar capital apenas no setor financeiro não é a resposta.” Para ele, esta não é uma crise bancária ou choque comum na oferta e na demanda, “é um choque para a sociedade como um todo.”

Destacando medidas como reforço da liquidez do sistema financeiro, ele afirmou que não se pode esquecer que se trata “essencialmente de uma crise humana.”

Atenção deve ser dada aos trabalhadores mais vulneráveis, com baixos salários, e às pequenas e médias empresas. Isso significa apoio salarial, seguro, proteção social, prevenção de falências e perda de emprego.

Também significa respostas fiscais e monetárias para garantir que o maior custo não é pago por aqueles que menos podem pagar. Guterres alertou que não se pode “criar uma legião de novos pobres.”

Ele defendeu que os recursos sejam colocados “diretamente nas mãos das pessoas”, destacando iniciativas de proteção social propostas em vários países, como transferências de renda e renda universal.

Dívida

O secretário-geral lembrou que a maioria dos países do G-20 está protegendo seus cidadãos e economias suspendendo pagamentos de juros. Segundo ele, a mesma lógica deve ser aplicada aos países mais vulneráveis, aliviando o peso da sua dívida.

Guterres também alertou para “a tentação de recorrer ao protecionismo”, dizendo que “é a hora de desmantelar as barreiras comerciais e restabelecer as cadeias de suprimentos.”

O chefe da ONU destacou depois os efeitos da crise nas mulheres e nas crianças. Nesse momento, mais de 800 milhões de crianças estão fora da escola. E muitas crianças dependem da merenda escolar para sobreviver.

Também se deve impedir que essa pandemia se transforme numa crise de saúde mental, uma área em que os jovens estarão em maior risco.

Quanto à ajuda humanitária que a ONU presta em todo o mundo, ele pediu apoio continuo dos Estados-membros, dizendo que “necessidades humanitárias não devem ser sacrificadas.”

Recuperação

Por fim, em terceiro lugar, o mundo tem a responsabilidade de fazer uma recuperação no bom caminho.

Para Guterres, a crise financeira de 2008 “demonstrou claramente que países com sistemas robustos de proteção social sofreram menos e se recuperaram mais rapidamente de seu impacto.”

O secretário-geral afirmou que o mundo deve “garantir que as lições sejam aprendidas e que essa crise se torna um momento decisivo para a preparação para emergências em saúde e para investimentos em serviços públicos críticos do século 21”.

Ele lembrou que o mundo tem as ferramentas para essa recuperação na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e no Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas.

Mais do que nunca, concluiu António Guterres, o mundo precisa “de solidariedade, esperança e vontade política para vencer esta crise.”

(Via ONU News)

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