População de onças-pintadas na região de Iguaçu registra crescimento

Onça-pintada em árvore no Amapá/Foto: André Dib

Desenvolvido em um momento crítico e incerto para o futuro do maior felino selvagem das Américas, o censo populacional da região do Iguaçu (Parque Nacional do Iguaçu, Brasil, e Parque Nacional Iguazú, Argentina) divulgado nesta sexta-feira, 29 de novembro, Dia Internacional da Onça-Pintada, aponta crescimento de indivíduos na região entre 2016 e 2019. O total estimado de onças-pintadas está entre 84 e 125. Em 2014 eram entre 51 e 84 e em 2016, entre 71 e 107 animais na região.

O aumento populacional é o resultado direto da cooperação internacional entre o WWF-Brasil, Fundación Vida Silvestre Argentina (FVSA), Parque Nacional do Iguaçu, Parque Nacional Iguazú, Projeto Onças do Iguaçu (Instituto Pró-carnívoros), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“Nosso trabalho de conservação vai além do monitoramento. Atuamos na conscientização de moradores vizinhos ao parque para a redução das principais ameaças à vida silvestre que são a caça, perda de habitat e os atropelamentos. Apesar do aumento, a área ainda comporta muitos outros animais”, diz Felipe Feliciani, analista de conservação do WWF-Brasil.

O levantamento foi realizado com o auxílio de 80 câmeras instaladas em mais de 40 locais estratégicos em ambos os Parques Nacionais, e mobilizou dezenas de pessoas entre brasileiros e argentinos. “As manchas da onça-pintada são únicas, então é possível individualizar os animais e contabilizar, é como se estivéssemos tirando as impressões digitais. Além disso, a onça-pintada é uma excelente nadadora e pode cruzar a fronteira a nado diversas vezes em um mesmo dia. A fronteira é uma convenção dos homens, para a natureza a floresta é a mesma e por isso essa cooperação internacional de conservação e estudos é fundamental para a sobrevivência da espécie”, afirma Feliciani.

A conservação da onça-pintada vai muito além da proteção uma única espécie. A conservação bem-sucedida dessa espécie é fundamental e mantém florestas, estoques de carbono, biodiversidade, disponibilidade hídrica e patrimônio nacional e cultural. Esses esforços não apenas protegem toda a vida selvagem em toda a paisagem da onça-pintada, mas ajudam a diversificar as oportunidades econômicas das comunidades locais e contribuem para a mitigação e adaptação das mudanças climáticas globais.

Risco de extinção

Restam aproximadamente 300 onças-pintadas na Mata-Atlântica, o que representa risco iminente de desaparecimento do maior felino das Américas em áreas de Mata Atlântica. O felino está presente em quase todos os biomas brasileiros, não sendo encontrado apenas nos Pampas, onde já foi extinto.

As maiores concentrações populacionais estão na Amazônia e Pantanal, mas isso não quer dizer que o animal está a salvo. Recentemente foram descobertos verdadeiros grupos de extermínio de onças atuando nestes biomas. Um dos grupos teria matado mais de 1.000 onças na Amazônia. Além disso, as recentes queimadas nessas regiões têm afetado diretamente a biodiversidade local e a qualidade dos ecossistemas.

O atual cenário preocupa especialistas, segundo a Aliança Onça-Pintada (rede colaborativa de instituições criada em 2014 para ampliar ações de pesquisa e conservação da espécie na Amazônia brasileira), o número estimado de onças-pintadas afetadas pelas recentes queimadas em todo o bioma amazônico varia entre 400 e 1.500 indivíduos. Essas estimativas consideram o número médio de 2,5 a 5 indivíduos a cada 100km2 de área na Amazônia.

No Pantanal, as queimadas atingiram o refúgio Caiman, considerado um refúgio de onças-pintadas no Brasil. No total, a fazenda que registra 146 onças, tem 52 mil hectares, dos quais 40 mil foram destruídos. As onças monitoradas conseguiram escapar, mas podem ter dificuldades para se alimentar já que outros animais, como tatus, cobras e tamanduás foram encontrados carbonizados. Grandes aves pantaneiras, como o tuiuiú, também sofrem com a falta de alimentos.

Na Amazônia, se as queimadas atingissem áreas protegidas como as reservas de desenvolvimento sustentável Mamirauá e Amanã, onde estudos apontam uma densidade de cerca de 10 animais por 100km2, as perdas seriam bem maiores.

A perda de abrigo e de hábitat é apenas o efeito imediato após a passagem do fogo. A quebra do equilíbrio da floresta afeta plantas e inúmeras espécies de animais. A frutificação das plantas é alterada, havendo menos disponibilidade de alimentos em longo prazo para os mamíferos menores, como queixadas, caititus, veados, cutias, preguiças e macacos. Essas são presas naturais da onça-pintada, que acaba sendo também afetada por este efeito por estar no topo da cadeia alimentar.

Cooperação e conscientização

O trabalho de conservação do WWF-Brasil é focado em abrir um novo caminho para fortalecer a cooperação internacional e a conscientização das iniciativas de proteção da onça-pintada, incluindo aquelas que reduzem o conflito homem-onça. O projeto conecta e protege os habitats naturais de onça-pintada, e estimula oportunidades de desenvolvimento sustentável, ecoturismo, comunidades e povos indígenas para melhorar o bem-estar, qualidade de vida e promover a coexistência com a espécie.

Diante deste cenário, torna-se fundamental o desenvolvimento de iniciativas que divulguem e promovam o engajamento, que levem a mensagem da necessidade de preservação das onças-pintadas e da biodiversidade.

Captura na Amazônia

O WWF-Brasil, em colaboração com os parceiros Instituto Onça-Pintada e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio – Agência Brasileira de Meio Ambiente e Áreas Protegidas), recentemente conduziu uma missão de colarização de onças para entender melhor o comportamento dessa espécie-chave na área protegida Maracá-Jipioca, uma ilha localizada na costa do Amapá.

O rastreamento dos animais colarizados, ajuda a entender como eles se adaptaram com sucesso a viver em um ecossistema insular. Esse projeto vai ajudar na coleta de informações que contribuirão com os planos de conservação para proteger melhor essas espécies a caça e o comércio ilegal de animais silvestres, que visa sua pele e partes do corpo.

Usando métodos de captura humanitária, a equipe capturou e etiquetou com sucesso três onças-pintadas, duas fêmeas e um macho, antes de liberá-las de volta à natureza. Enquanto os animais estavam sedados, foram realizados exames de saúde e colhidas amostras de sangue, para melhor entender a composição genética da população. Além disso, o WWF-Brasil realizou recentemente uma extensa pesquisa de armadilhas fotográficas na ilha, identificando uma população de pelo menos 20 animais, incluindo filhotes.

Onça-pintada atrai turistas de observação no Pantanal

O turismo de observação de onças vem se mostrando um grande aliado para a conservação de áreas protegidas. Incluir opções de geração de renda para as comunidades locais é uma das principais ferramentas para reduzir a caça e supressão de vegetação nativa.

Os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são grandes exemplos de como a conservação gera renda e emprego. Cidades como Aquidauana (MS), Cáceres (MT), Corumbá (MS), Miranda (MS) e Porto Jofre (MT) atraem milhares de pessoas de todo o mundo e movimentam milhões de reais todos os anos. Segundo a ONG Panthera, o turismo de observação de onças movimentou apenas em Porto Jofre, em 2015, mais de R$ 28 milhões.

A principal época para visitar é entre julho e novembro, quando ocorre a seca no Pantanal e os animais ficam mais fáceis de serem avistados. Mas é preciso fazer reserva com antecedência, pois as pousadas costumam ficar lotadas.

Dia Internacional da Onça-Pintada

A criação do Dia Internacional da Onça-Pintada foi anunciada na COP-14 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PnuD), WWF, Wildlife Conservation Society (WCS), Panthera e representantes dos governos da América Latina. Comemorado anualmente em 29 de novembro, este dia visa aumentar a conscientização sobre as ameaças enfrentadas pela espécie, esforços de conservação garantindo sua sobrevivência e o papel da onça como uma espécie-chave cuja presença é o principal indicador de um ecossistema saudável, ou seja, é a base para um futuro sustentável tanto para a vida selvagem quanto para as pessoas. A onça-pintada também é reconhecida como espécie símbolo da biodiversidade brasileira.

Coexistência e encantamento

O Projeto Onças do Iguaçu (@oncasdoiguacu) é uma das principais iniciativas de conservação de onças-pintadas no Brasil. Atua em conjunto com a Argentina e o Paraguai e ajudou a recuperar a população destes animais na região de Foz do Iguaçu. O projeto busca a coexistência entre as onças e as populações humanas através do encantamento das pessoas sobre a espécie e desenvolvimento de estratégias de redução dos conflitos.

Podcast

O WWF-Brasil gravou uma série especial de podcasts sobre onças-pintadas. O conteúdo foi idealizado para estudantes, pesquisadores e amantes da onça-pintada e conta com entrevistas com alguns dos maiores especialistas do Brasil sobre onças-pintadas. Como, por exemplo, Peter Crawshaw, Ronaldo Morato e Yara Barros. Clique aqui para escutar agora no Spotify ou aqui para escutar direto no seu navegador.

Moradores da floresta

A websérie “Moradores da Floresta”, veiculada pelo WWF-Brasil desde o ano passado, traz um conjunto de imagens inéditas e exclusivas: desta vez, porém, mostrando cenas de grandes felinos que ocorrem na Amazônia. Entre os animais retratados estão o jaguarundí (também conhecido como gato-mourisco) a jaguatirica, a onça-parda (também conhecida como puma) e a onça-pintada.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*