Polo bioenergético e sucroalcooleiro está em implantação na Bahia

 Primeira usina de cana-de-açúcar, de um total de 10 previstas para produção de etanol, açúcar e energia de biomassa está sendo implantada em Muquém do São Francisco/Foto: Mateus Pereira/GovBA

Um novo Eldorado do setor sucroenergético. Essa é a visão de empresários, agrônomos, agentes de bancos de fomento e de fundos de investimentos que foram conhecer in loco a implantação de um Polo de Desenvolvimento Bioenergético e Sucroalcooleiro, aposta do governo do Estado, para potencializar econômica e socialmente o Médio São Francisco baiano.

Uma comitiva de negócios, chefiada pelo vice-governador João Leão, secretário de Desenvolvimento Econômico (SDE), esteve em Muquém do São Francisco e Barra do Rio Grande, na última semana, para atrair novos investidores para o projeto. O modelo bem sucedido da Agrovale, referência em agricultura irrigada no setor sucroalcooleiro em Juazeiro, também foi visitado.

A projeção é que o polo possa vir a gerar 9,1 mil empregos diretos e mais 30 mil indiretos na região, nos próximos anos. Isto porque a primeira usina de cana-de-açúcar, de um total de 10 previstas para produção de etanol, açúcar e energia de biomassa, está sendo implantada em Muquém do São Francisco, pelo Grupo Paranhos. O protocolo de intenções assinado com a SDE prevê investimentos de R$ 107 milhões, com possibilidade de gerar 921 empregos diretos e até 3 mil empregos indiretos.

De acordo com Sergio Paranhos, presidente do Grupo, a usina vai dinamizar a economia regional e elevar até a pauta de exportações do Estado: “Além disso, a topografia favorável do terreno, o clima e a tecnologia de irrigação tornam o investimento viável”. A unidade industrial em implantação, além de já emprega a população local no plantio e na construção da usina, terá capacidade de produzir 1,9 milhões sacas/ano de açúcar, 9,4 mil m³/ano de etanol anidro e 9,4 mil m³/ano de etanol hidratado.

“Trouxemos usineiros de diversas partes do país, todos atestam que há viabilidade econômica. A qualidade da cana, do solo, os encantou. Temos a possibilidade concreta de implantar aqui mais indústrias sucroalcooleiras, onde serão fabricados açúcar, etanol e energia de biomassa – com o bagaço da cana. A Bahia, com todo esse potencial, importa esses insumos. Mas, se nosso mercado consumidor está aqui no estado, é aqui que vamos produzir”, destaca João Leão.

Para o vice-governador e titular da SDE, a intenção do polo é tornar a Bahia autossuficiente na produção sucroalcooleira em áreas irrigadas, diversificar o potencial energético da região, gerar emprego e descentralizar a arrecadação de ICMS no estado.

A Bahia hoje é o 10º estado na produção de cana-de-açúcar. O estado consumiu 800 mil m³ de etanol em 2018 e produziu apenas 10%. O consumo de açúcar é de cerca de 600 mil toneladas, entretanto, a produção baiana na safra 2017/2018 foi de apenas 160 mil/toneladas, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar e o Sindaçúcar.

Viabilidade

Antonio Neto, sócio proprietário da IDGR Investimentos, se diz surpreso por encontrar no Médio São Francisco uma nova fronteira agrícola. “Temos um amplo debate sobre expansão de fronteira agrícola e aqui é uma área inexplorada. Isto é extremamente interessante para os investidores. Num momento onde a taxa de juros é muito baixa, o dinheiro rende muito pouco, então estamos atrás de bons projetos e este é um bom projeto, com um solo que, irrigado, consegue ter uma produtividade maior que em Ribeirão Preto. Para mim, isso aqui é o novo Eldorado do setor de cana de açúcar e de geração de energia”, afirma.

“Não imaginava ter um projeto desta envergadura e neste estágio de avanço, numa área pouco explorada, aqui no Muquém. É um projeto que já saiu do papel. Há viabilidade de investimento, pois onde há oportunidade de desenvolvimento local, o banco tem disponibilidade de se fazer presente”, diz Francisco Ricardo Silveira, superintendente da Caixa Econômica Federal no Oeste da Bahia. Viabilidade ressaltada pelo técnico agrônomo do Banco do Brasil, especialista em cana, Juliano Santos Geraldo: “É possível sim o investimento na região. Há condições técnicas, de solo e de plantio favoráveis”.

É o que também analisa o empresário argentino Gabriel Sustaita, diretor-presidente da Bevap Bioenergia – maior usina irrigada do mundo, com 32 mil hectares irrigados em João Pinheiros, nordeste de Minas Gerais. Para ele, o know how técnico do seu empreendimento pode ser utilizado no Médio São Francisco, assegurando alta produtividade da cana-de-açúcar, com eficiência e sustentabilidade. “Fomos convidados para compor essa comitiva por sermos produtores irrigados, com elevado conhecimento. Vamos avançar as conversas, pois vejo que tem muito potencial na região e compromisso do governo baiano com o projeto”, ressalta.

Barra do Rio Grande

As águas do Rio Grande, um dos maiores afluentes da margem esquerda do Rio São Francisco, e a luminosidade da região dão condições para a produção irrigada também no município de Barra. “Isso é fundamental para o polo sucroenergético, pois reunimos todas os fatores para tornar esse potencial um polo produtivo”, destaca o empresário Pedro Leite, responsável pelo Projeto Igarité, onde também funcionará uma usina de açúcar e etanol e proprietário de 75 mil hectares de terras na região.

Já o consultor em agronegócio, Sylvio Ortega Filho, defende que o polo sucroalcooleiro do Médio São Francisco, além dos empregos perenes e de boa remuneração, contribuirá para que o Estado deixe de importar açúcar e etanol, favorecendo a produção para consumo regional. “Aqui tem algumas vantagens: a cana é irrigada, a topografia é boa e isto resultará numa linha de cana com extensão muito grande, sem a necessidade de fazer manobra da colheita”, explica.

Agrovale

Referência em agricultura irrigada e produtividade de cana por hectare no estado, a Agrovale, em Juazeiro, tem capacidade instalada de produção fabril de 180 mil toneladas de açúcar e 115 milhões de litros de etanol. São investidos anualmente em torno de R$ 30 milhões na unidade. Os empregos diretamente gerados, durante o período da safra, totalizam 5 mil na lavoura e 300 na indústria. Durante a entressafra essa quantidade reduz para 2 mil empregos na lavoura, mantendo-se os 300 na área industrial.

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