Desde a Revolução Industrial, no século 18, a economia funcionou de forma linear. As empresas extraem matéria-prima e a transformam em produtos, gerando resíduos ao longo do processo. Os compradores consomem e descartam. O resultado é o uso excessivo dos recursos naturais, numa ponta, e a geração de lixo, na outra.
Esse modelo não se sustenta mais. Em seu lugar, está se instaurando a economia circular, que unifica as pontas da cadeia de produção e consumo, com benefícios para a sustentabilidade e para a geração de empregos. Muito difundida na Europa, a economia circular é um conceito essencial para o desenvolvimento sustentável dos países e que, no Brasil, começa a ganhar espaço. Como mostra pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 76,4% das empresas do setor adotam alguma prática de economia circular.
Nesse sentido, a CNI tem trabalhado para ampliar a adoção do modelo e mobilizar empresas, governo, academia e sociedade em escala nacional. Uma das ações recentes, no último dia 24, foi a realização do Encontro Economia Circular e a Indústria do Futuro, em São Paulo. Ao longo de um dia inteiro de painéis e palestras que reuniram especialistas e empreendedores da academia e dos setores público e privado, o evento debateu não só o conceito de economia circular, mas também estratégias concretas de colocá-lo em prática.
Ações e empregos
Durante o evento, correalizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) com o apoio da Nespresso, do Instituto C&A e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a CNI apresentou a primeira pesquisa de abrangência nacional sobre o tema. Além de mostrar que três quartos das empresas já adotam alguma ação de economia circular, os números mostram que 60% avaliam que a prática pode gerar empregos e 75,9% a percebem como relevante para evitar desperdícios.
“A transição para a economia circular permitirá que a indústria brasileira esteja à frente das legislações e das normas nacionais e internacionais, colaborando para a construção de políticas públicas facilitadoras às mudanças sistêmicas”, afirma Marcelo Thomé, presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.
“Em um primeiro momento, as empresas terão de investir, mas em uma etapa seguinte será possível diminuir custos operacionais, com processos mais eficientes e voltados para o reaproveitamento de resíduos e utilização de bens reciclados”.
Alternativa desejável
Para o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, a economia circular é um imperativo e uma oportunidade em um mundo que está em rápida transformação. “A economia circular aparece como alternativa desejável ao modelo tradicional, pois defende o uso dos recursos naturais com menos desperdício. Além disso, permite que as empresas reduzam custos e perdas, gerem fontes alternativas de receita e diminuam a dependência de matérias-primas virgens.”
O embaixador da Deleção da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybañez, ressalta que a transição para a economia circular é a única maneira de responder ao enorme desafio que temos pela frente. “Desde a metade do século passado, a população mundial duplicou, e a extração de matérias-primas triplicou. Até 2050, o uso anual de recursos per capita aumentará 70%. A demanda por alimentos vai crescer 60%”, observa.