
Um estudo divulgado na quarta-feira, 5 de março, revelou que 36 empresas de combustíveis fósseis são responsáveis por metade das emissões de CO2 no mundo todo. As informações são do The Guardian.
A pesquisa Carbon Majors, do think tank InfluenceMap, identificou que gigantes como Saudi Aramco, Coal India, ExxonMobil, Shell e diversas empresas chinesas produziram carvão, petróleo e gás responsáveis por mais de 20 bilhões de toneladas de emissões de CO2 no ano passado.
Se a Saudi Aramco fosse um país, seria o quarto maior poluidor do mundo, atrás apenas de China, Estados Unidos e Índia. O relatório alerta que as emissões precisam cair 45% até 2030 para limitar o aquecimento a 1,5°C, meta do Acordo de Paris.
“Essas empresas estão mantendo o mundo viciado em combustíveis fósseis sem planos de reduzir a produção”, disse Christiana Figueres, que era a chefe do clima da ONU quando o histórico Acordo de Paris foi firmado em 2015. “A ciência é clara: não podemos retroceder para mais combustíveis fósseis e mais extração. Em vez disso, devemos avançar para as muitas possibilidades de um sistema econômico descarbonizado que funcione para as pessoas e para o planeta.”

Impacto e responsabilidade
Emmett Connaire, do InfluenceMap, o think tank que produziu o relatório Carbon Majors, afirmou: “Apesar dos compromissos climáticos globais, um pequeno grupo dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo está aumentando significativamente a produção e as emissões. A pesquisa destaca o impacto desproporcional que essas empresas têm na crise climática e apoia os esforços para responsabilizar as corporações.”
Um porta-voz da Shell declarou: “A Shell está comprometida em se tornar um negócio de energia com emissões líquidas zero até 2050. Nossos investimentos em novas tecnologias estão ajudando a reduzir as emissões tanto para a Shell quanto para nossos clientes.” A Saudi Aramco recusou-se a comentar. Coal India, ExxonMobil, Chevron, TotalEnergies e BP não responderam aos pedidos de comentário.
Os dados do Carbon Majors têm sido usados como evidência para apoiar leis aprovadas nos estados de Nova York e Vermont, nos EUA, que buscam compensação das empresas de combustíveis fósseis pelos danos climáticos. Esses dados também foram citados por grupos jurídicos como base para possíveis acusações criminais contra executivos do setor de combustíveis fósseis e referenciados em ações regulatórias, como a queixa da ClientEarth contra a BlackRock por enganar investidores.
O relatório Carbon Majors calcula as emissões liberadas pela queima de carvão, petróleo e gás produzidos por 169 grandes empresas em 2023. A base de dados também inclui as emissões da produção de cimento, que aumentaram 6,5% em 2023.
As 36 empresas responsáveis por metade das emissões globais em 2023 incluem estatais como China Energy, a Companhia Nacional de Petróleo do Irã, a russa Gazprom e a Adnoc, dos Emirados Árabes Unidos. Empresas de capital aberto desse grupo incluem a Petrobras, sediada no Brasil, e a italiana Eni.
Dessas 36 empresas, a maioria (25) são estatais. Dez delas estão na China, o maior país poluidor do mundo. O carvão foi responsável por 41% das emissões registradas em 2023, o petróleo por 32%, o gás por 23% e o cimento por 4%.
O conjunto de dados do Carbon Majors também inclui emissões históricas de 1854 a 2023. Os registros mostram que dois terços das emissões de carbono de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial vêm de 180 empresas, das quais 11 já não existem.
Kumi Naidoo, presidente da Fossil Fuel Non-Proliferation Treaty Initiative, declarou: “Estamos vivendo um momento crítico na história da humanidade. É essencial que os governos assumam a responsabilidade e usem sua autoridade para acabar com a raiz da crise em que nos encontramos: a expansão dos combustíveis fósseis.”