À medida que as cidades assumem um papel de liderança na ação climática, novos dados do CDP – o maior sistema global de divulgação ambiental – destacam a necessidade urgente de financiamento climático para apoiar projetos de infraestrutura urbana em todo o mundo.
O Global Snapshot 2024, desenvolvido em parceria com o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia (GCoM), revela que 611 cidades de 75 países reportaram 2.508 projetos relacionados ao clima pelo CDP-ICLEI Track em 2024, sendo necessário o investimento de US$ 86 bilhões.
A demanda por financiamento climático urbano cresce a cada ano, com um aumento de 23% na necessidade de investimentos no último ano de 2024. No entanto, esse valor representa apenas uma fração dos US$ 800 bilhões em investimento público anual necessários até 2030 por parte de governos nacionais e instituições financeiras de desenvolvimento, conforme destacado no U20 (fórum dos prefeitos do G20) do ano passado. Reduzir essa lacuna representa uma oportunidade sem precedentes para impulsionar soluções sustentáveis e acelerar a transformação urbana.
Apesar dos avanços, o financiamento climático urbano ainda é severamente insuficiente. Embora o fluxo desse tipo de financiamento tenha mais que dobrado entre 2017 e 2022, ele ainda está muito aquém dos US$ 4,5 trilhões anuais necessários até 2030 para mitigação e adaptação climática nas cidades.
Necessidade urgente
Com 86% dos projetos reportados ativamente em busca de financiamento e 40% dos projetos em economias emergentes e em desenvolvimento (EMDEs) necessitando de financiamento integral, há uma necessidade urgente de investimentos direcionados para viabilizar essas soluções climáticas essenciais.
Os três principais setores para investimento em 2024:
- Gestão da água – 272 projetos (US$28 bilhões)
- Transporte – 397 projetos (US$19 bilhões)
- Eficiência energética em edifícios – 508 projetos (US$12 bilhões)
Embora as economias desenvolvidas tenham reportado o maior número de projetos, com Europa e América do Norte liderando em quantidade, as cidades em economias emergentes e em desenvolvimento representam apenas 27% da necessidade total de financiamento reportada. A América Latina aparece na terceira posição. Esse desequilíbrio ressalta a necessidade de maior apoio internacional para garantir a resiliência climática nas áreas urbanas mais vulneráveis.
Ampliando o financiamento climático: principais ações
As cidades estão enfrentando a crise climática, mas precisam de mais apoio, especialmente nos mercados emergentes. O estudo do CDP e parceiros reforça a necessidade de:
- Aumento do financiamento climático local – Mobilizar pelo menos US$ 800 bilhões anualmente em investimentos públicos até 2030 para atender à demanda de US$ 4,5 trilhões em financiamento climático urbano.
- Engajamento do setor privado – Criar condições favoráveis ao investimento e colaborar com instituições financeiras públicas para impulsionar o financiamento em larga escala e reduzir emissões de GEE e riscos climáticos nas cidades.
- Alinhamento entre estratégias nacionais e locais – Garantir que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) estejam alinhadas às necessidades locais, possibilitando um financiamento climático urbano mais acessível e eficaz.
Dados robustos e detalhados sobre os projetos climáticos urbanos e suas necessidades de investimento são essenciais para o sucesso de iniciativas como a Coalizão de Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (CHAMP, em inglês) para ação climática. Com mais de 75% dos projetos (1.929) reportados por cidades de países que endossam a CHAMP, os dados do CDP-ICLEI Track podem ajudar governos nacionais a entender melhor as prioridades locais, alinhar suas estratégias de investimento em NDCs e fortalecer os esforços para escalar a ação climática nas cidades.
À medida que as cidades se adaptam a um mundo com eventos climáticos extremos mais frequentes e buscam reduzir seu impacto ambiental, a transparência na divulgação de dados será crucial para destravar investimentos e impulsionar ações concretas.
“As cidades estão na linha de frente da luta contra as mudanças climáticas, mas sem investimentos urgentes e substanciais, seus esforços serão limitados. O aumento de 23% na necessidade de investimento reportada mostra a crescente escala da ação climática urbana, mas o déficit de financiamento ainda é uma barreira crítica. Os dados do Global Snapshot deste ano reforçam uma mensagem essencial: as cidades estão agindo, mas não podem fazer isso sozinhas. Para avançarmos de forma significativa, precisamos capacitar os governos locais, especialmente em economias em desenvolvimento, com o apoio financeiro necessário”, destaca Katie Walsh, Head de Finanças Climáticas para Cidades, Estados e Regiões da América do Norte no CDP.
Asma Jhina, Senior Advisor de Finanças Climáticas Urbanas e Ação Inclusiva do Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia (GCoM), afirma que “Mais do que nunca, as cidades ao redor do mundo estão assumindo a liderança na luta climática e avançando com projetos de infraestrutura urbana essenciais para construir comunidades resilientes para o futuro. Mas para concretizar esses projetos, elas precisam de acesso a financiamento e parcerias. O CDP Global Snapshot destaca a necessidade urgente de financiamento climático para apoiar projetos urbanos de infraestrutura em todo o mundo.”
Snapshot: Panorama Global
Todos os anos, milhares de cidades ao redor do mundo são convidadas a participar do CDP-ICLEI Track, um questionário ambiental abrangente desenvolvido pelo CDP, a maior plataforma independente de reporte ambiental do mundo. O questionário do CDP-ICLEI Track coleta informações sobre ações climáticas e planos de resiliência das cidades, metas de redução de emissões de gases de efeito estufa e iniciativas para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas.
Um dos principais dados captados pelo questionário é o número de projetos climáticos urbanos que necessitam de financiamento. Este panorama global é baseado nas respostas autorrelatadas ao CDP-ICLEI Track em 2024, onde governos locais divulgaram projetos climáticos que estão em busca de recursos financeiros. Os projetos abrangem diversos setores, desde produção de energia renovável e transporte de baixo carbono até o retrofit de edifícios e retenção de águas pluviais.
