Um grupo de conservacionistas se reuniu para pedir à sociedade apoio na arrecadação de recursos para criar um centro de pesquisa e educação ambiental na Serra do Mar, no litoral do Paraná.
A expectativa é de que pessoas de todo o Brasil sejam convidadas a contribuir com uma campanha, ou sorteio filantrópico, que vai sortear uma moto considerada uma raridade por colecionadores, no dia 15 de março de 2025: uma Yamaha Virago XV250S, ano 2002. O valor de cada número da sorte é de R$ 20,00.
O sorteio é autorizado pela Loteria Federal, pelo Certificado SPA/ME N°04.035949/2024, o que concede total transparência e conformidade com as regras oficiais. Para adquirir um bilhete e participar, é necessário acessar o site meusorteio.com.br/tekoha. Cada bilhete dá direito a uma chance e a numeração dos bilhetes é aleatória, entre 000000 a 499999. Os interessados podem participar de outubro de 2024 até o dia 09 de março de 2025, seis dias antes da data do sorteio, que será transmitido ao vivo, de forma online, pelas redes sociais da TEKOHA.
Educação ambiental e estímulo à pesquisa
A iniciativa foi pensada para arrecadar fundos para a criação de um espaço, que vai receber o nome de TEKOHA, espaço focado na proteção da Mata Atlântica, na educação ambiental, no estímulo ao ensino, à pesquisa, à ciência e à promoção da sustentabilidade no Brasil.
A identidade do local tem origem indígena Guarani e significa “casa”, “território” “comunidade”, “lugar onde crescemos e evoluímos e somos o que somos”.
Quem explica o conceito é Lis Boltão, de 56 anos, idealizadora da ideia, que conta que o sonho de criar a TEKOHA surgiu há quase 30 anos, quando, ainda adolescente, junto de duas amigas, sonhava com a ideia da construção de uma reserva ambiental que fosse um posto avançado de apoio à pesquisa, conservação, proteção e restauração da Mata Atlântica.
O bioma, que é a casa de mais de 70% dos brasileiros, depois de décadas de exploração desenfreada, tem hoje menos de 12% de áreas em bom estado de conservação em todo o país, segundo dados oficiais e, portanto, no mundo, o que significa que mais de 80% desse patrimônio natural já foi degradado ou suprimido pela ação humana.
“Nosso sonho é de que a TEKOHA seja viabilizada para receber alunos, estudantes, professores universitários, pesquisadores, cientistas e todas as pessoas interessadas em pensar em soluções para a conservação da Mata Atlântica e da natureza brasileira. Imaginamos um local com uma estrutura baseada em bioconstrução (construções nas quais a preocupação ecológica está presente desde sua concepção até a ocupação), que utilize produtos, insumos e parte da mão-de-obra local para beneficiar a economia do entorno e gerar menos impacto ambiental relacionado aos processos da construção, e conte com estruturas, como cabanas, para o pernoite de pesquisadores que desejem se instalar no local por mais tempo para conduzir seus estudos. Projetos de agrofloresta, captação de energia limpa, manejo de resíduos e destinação adequada e fossas biogestoras também são imaginados para o local.”
As inspirações para a construção da TEKOHA vêm de países como Dinamarca, Noruega, França, entre outras nações desenvolvidas, que já apresentam soluções e tecnologias sustentáveis avançadas em bioconstrução, juntamente com as técnicas de construção de nossos ancestrais, que já dominavam a bioconstrução, como, por exemplo, as técnicas de taipa adobe, taipa de pilão, entre outras, e que servem de inspiração para o local.
Lis nasceu em Curitiba e, aos três anos de idade, foi para Londrina, interior do Paraná, permanecendo lá até os 24 anos. Depois, retornou à capital. Vive em Curitiba desde os 26 anos e recorda da infância aproveitada em meio à floresta, com a experiência de muita trilha, observação de animais e banhos de cachoeiras nas áreas naturais de Londrina e região.
“Lembro que, junto das minhas amigas, sonhávamos com este espaço décadas atrás, mas não tivemos condições de realizar. Hoje, elas já são falecidas e, também por elas, entendi que a forma mais eficiente de tirar a ideia da TEKOHA do papel era apelar para o apoio da sociedade. Existem muitas pessoas que entendem que a conservação da natureza é a única forma de garantir nossa sobrevivência na Terra e agirmos, já, para contribuir com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas por meio da proteção e da restauração das nossas florestas. Foi assim que a ideia do sorteio da moto, que era minha, surgiu”, conta Lis.
O prêmio “raridade”
A moto, Yamaha Virago XV250S, foi um modelo lançado pela marca em 1997, foi produzida até 2022, já saiu de linha, e é considerada uma raridade entre colecionadores e especialistas em motocicletas. “Já fizemos avaliações e o valor de mercado dela é realmente diferenciado, em virtude do perfeito estado de conservação e dos processos de restauração que foram feitos”, diz Lis, que decidiu doar o meio de transporte que a acompanhou por 12 anos. A Lola é de 2002, o último ano produção.
“Hoje, a moto já está no nome da TEKOHA, que, juridicamente, é uma Associação Sem Fins Lucrativos. Ela não é mais minha. Será de alguma das pessoas que escolher participar das doações para a construção do nosso espaço. Com certeza, ficará em excelentes mãos. E quem a conquistar, ainda pode pegar a placa preta”, indica Lis, fazendo referência à placa que representa uma distinção concedida pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran), em parceria com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), a veículos considerados antigos, geralmente com mais de 30 anos de fabricação e que são classificados como automóveis de coleção.
“Algumas pessoas podem até achar estranho que o prêmio para viabilizar um espaço de conservação da natureza seja uma moto, mas a ideia é sempre oferecer o que temos. E temos a moto. Mas o mais curioso é que o nome desse modelo é ‘Virago’, que vem a ser o nome da fêmea do Varão, que é um mosquito. Isso pode agradar aos biólogos”, brinca Lis.
Com o valor arrecadado pelo sorteio, associado a outros valores de doações dos envolvidos no projeto, e de pessoas físicas que o grupo de conservacionistas já recebeu, a expectativa é de compra de um terreno, ainda em 2025, na região da Serra do Mar, que já está sendo avaliado. Ele ficará na região da Grande Reserva Mata Atlântica, um território de quase três milhões de hectares de floresta nativa, localizada entre os Estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. O território é um importante patrimônio natural, cultural e histórico e um valioso e singular destino de turismo de natureza, nacional e internacional.
Transparência
Lis destaca que a transparência é um dos aspectos mais valorizados pelo grupo, que faz questão de que todos os apoiadores da campanha de arrecadação de recursos possam acompanhar cada uma das etapas do projeto.
“Nas redes sociais e no site da TEKOHA, as pessoas poderão acompanhar todo o processo: da compra da terra, à construção das estruturas, parcerias que fizermos, até a inauguração do espaço, que gostaríamos muito que pudesse acontecer ainda no ano de 2026. Trabalharemos para isso”, indica.
“Desejo que a TEKOHA sirva de inspiração para outras iniciativas no país e que, em todos os biomas do Brasil exista um modelo parecido. Queremos levar estudantes de escolas particulares, públicas, e incluir também escolas indígenas, quilombolas e ribeirinhas para vivências e aprendizados no local. A interação entre os grupos será nosso grande objetivo. A TEKOHA será uma reserva ambiental de apoio à pesquisa. Além de preservar uma área relevante de Mata Atlântica, o projeto conectará pesquisadores, desenvolverá soluções e sistemas sustentáveis, apoiando e fomentando a troca de saberes e soluções agroecológicas. Precisamos unir esforços para viabilizar os recursos necessários e tornar este sonho realidade. Cada doação, independentemente do valor, é uma semente plantada para o futuro da Mata Atlântica. Esse conceito não só cria uma ligação emocional com o projeto, mas também reforça a ideia de que todas as pessoas têm um papel vital na construção e preservação desse ecossistema”, convoca Lis.
O regulamento da campanha pode ser lido aqui:
Para participar da campanha, acesse: https://meusorteio.com.br/tekoha.