[Artigo] UNEA 6: Tudo, em toda parte, todos juntos

Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), durante a sessão de abertura da 6ª sessão da Assembleia Ambiental da ONU (UNEA-6) em Nairóbi, Quênia, em 26 de fevereiro de 2024.
Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), durante a sessão de abertura da 6ª sessão da Assembleia Ambiental da ONU (UNEA-6) em Nairóbi, Quênia, em 26 de fevereiro de 2024.

Por Inger Andersen*

O mundo não tem apenas uma lista afazeres ambientais. O mundo tem uma lista imperativa de ações ambientais – para 2024 e para as décadas futura. Temos de desacelerar a mudança climática e nos adaptar a ela, proteger e restaurar a natureza e a biodiversidade, reverter a degradação dos solos e a desertificação, acabar com a poluição e os resíduos.

Se acertarmos, poderemos construir um futuro que funcione para muitos, não apenas para poucos – um princípio que está no centro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Nações em todos os estágios de desenvolvimento se comprometeram a trabalhar para esse futuro sustentável sob dezenas de acordos ambientais multilaterais.

Em tempos de crise geopolítica e mudanças no cenário político, isso não é tarefa fácil. A ação sobre o meio ambiente é uma força poderosa de união. Há acordos globais que estabelecem metas e objetivos acordados, como o Acordo de Paris, o Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal e o Marco Global sobre Produtos Químicos.

Muitas empresas e investidores estão prometendo alinhar seus modelos e capital com aspirações de baixo carbono e positivas para a natureza. Bancos internacionais e organizações de todos os matizes estão fazendo da ação ambiental uma parte central de seus objetivos. A comunidade científica está cada vez mais deixando de apenas soar o alarme para indicar soluções.

No entanto, os avanços em fazer os compromissos se tornarem ações transformadoras devem ganhar mais celeridade. O ano passado foi o mais quente já registrado, com ondas de calor, tempestades e secas causando estragos. Milhões de pessoas morreram devido à poluição do ar, da terra e da água. As florestas tropicais continuaram a encolher e as populações de espécies cruciais para a saúde do ecossistema diminuíram.

Todos os dias, todas as semanas, todos os meses isso continua, a humanidade cava um buraco mais profundo de onde levará mais tempo para sair. No entanto, não se trata apenas de trabalhar mais; trata-se de trabalhar de forma mais inteligente. Com tantos acordos em jogo, há um risco crescente de fragmentação.

Este é um desafio que precisamos enfrentar, garantindo que o trabalho em cada compromisso se encaixe e amplie o trabalho dos outros. Afinal, estamos essencialmente perante um único desafio global: aquilo a que nós, no Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnuma), chamamos a tripla crise planetária: a crise das alterações climáticas, a crise da natureza e da perda de biodiversidade e a crise da poluição e dos resíduos.

Os principais motores de todos os desafios ambientais são muitas vezes os mesmos: consumo e produção insustentáveis são os principais entre eles. As melhores soluções para implantar são aquelas que atingem vários desafios ao mesmo tempo. É aí que entra a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, conhecida como UNEA. A Assembleia, o órgão decisório de mais alto nível do mundo sobre meio ambiente, une as nações a cada dois anos para olhar não apenas para questões isoladas, mas para tudo, em toda parte, todos juntos.

sexta reunião da Assembleia acontece esta semana em Nairóbi, no Quênia, na sede do Pnuma – que abriga os secretariados de mais de duas dezenas de acordos, convenções regionais e painéis científicos. Este ano, convidamos os acordos multilaterais em matéria de ambiente, as nações e, na verdade, todos os atores a reunirem-se e a encontrarem novas formas de trabalharem em conjunto para um objetivo comum. Não estou dizendo que isso será simples. Há dezenas de instituições que abrangem centenas de objetivos e metas.

  • O Acordo de Paris visa a limitar o aumento da temperatura global a bem menos de 2°C ou 1,5°C.
  • O Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal prevê a proteção, restauração e gestão sustentável das terras, oceanos, áreas costeiras e águas interiores da Terra.
  • As nações buscam a neutralidade da degradação da terra sob a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação.
  • Protocolo de Montreal continua a proteger a camada de ozônio e está contribuindo para a ação climática. Temos outros acordos para fazer tudo, desde proteger as espécies até proteger as pessoas e o planeta de produtos químicos e resíduos nocivos.
  • Um novo instrumento para acabar com a poluição plástica também está em fase final.

Enquanto isso, as nações intensificarão a UNEA-6 com novas resoluções destinadas a enfrentar a tripla crise planetária. Com tanta coisa acontecendo, às vezes parece que estamos todos em um barco mirando o mesmo porto, operando dezenas de casas de máquinas diferentes conectadas a lemes diferentes.

Não estamos pegando a rota mais rápida e direta para o destino. Na UNEA-6, todos devem se esforçar para encontrar novas maneiras de coordenar as casas do leme. Aprender uns com os outros e aplicar lições do passado ao futuro. E começar a cumprir os muitos compromissos que tornarão o planeta, e a humanidade, íntegros e saudáveis.

*Diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

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