O período mais chuvoso em boa parte do Brasil concentra-se entre os meses de outubro e março. No cenário de chuvas intensas, a gestão adequada dos resíduos torna-se uma prioridade para evitar impactos ambientais negativos. Estima-se que, em 2022, cerca de 61% dos resíduos sólidos urbanos coletados no País foram encaminhados para aterros sanitários. Isso corresponde a 43,8 milhões de toneladas no ano. Os dados são do Panorama de 2023 da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).
Dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE apontam que o número de aterros sanitários cresceu 10% entre 2008 e 2018, com estimativa de o país possuir cerca de 1.700 unidades desse serviço. Para evitar a contaminação do solo e corpos d’água são essenciais a gestão eficiente e o monitoramento constante.
“Com essa quantidade de aterros é importante seguir as diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305 de 2010. Além do mais, um dos grandes desafios enfrentados na época de chuvas é o aumento significativo na produção de líquido lixiviado, popularmente conhecido como chorume, sendo fundamental que os responsáveis por essas instalações redobrem a atenção e adotem cuidados especiais quanto ao tratamento e a destinação correta e segura, para evitar o transbordo das lagoas de chorume e a consequente contaminação do solo e mananciais hídricos”, alerta Lívia Baldo, especialista em gestão de resíduos e diretora comercial da Tera Ambiental.
Altamente poluente
Segundo a especialista, o chorume, líquido resultante do processo de decomposição de matérias orgânicas em aterros sanitários, é viscoso, tem cheiro forte e desagradável e é altamente poluente. No período de chuvas, além do maior volume, aumenta a vulnerabilidade do solo à infiltração.
Lívia cita, ainda, dados da Tera Ambiental que comprovam o expressivo aumento da geração de chorume nos meses mais chuvosos. Em 2023, a média mensal de chorume recebida pela empresa no primeiro trimestre, quando são maiores os volumes pluviométricos, foi duas vezes maior do que no restante do ano. “Percebemos que os índices desse resíduo praticamente dobram em épocas chuvosas, o que exige o reforço em cuidados, além do mais, existem regulamentações ambientais que impõem padrões rigorosos para o controle e tratamento do chorume”, explica.
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Corresponsabilidade ambiental
Outro aspecto importante a ser considerado pelas empresas no momento da destinação dos resíduos, até mesmo as que optam pelos aterros sanitários, segundo Lívia Baldo, é a questão da corresponsabilidade ambiental.
“A legislação brasileira prevê o princípio de responsabilidade solidária, que significa que todas as empresas envolvidas na gestão dos resíduos são responsáveis em casos de danos ambientais decorrentes. Portanto, não basta que a geradora disponha seus resíduos em um aterro sanitário. É preciso verificar se possui as licenças e condições adequadas para realizar o serviço de forma segura e eficiente, ainda que a destinação do chorume seja feita junto a uma empresa especializada para tratar o efluente, conclui a especialista da Tera Ambiental.