Com o novo Marco do Saneamento, que deverá aumentar de modo significativo o volume de esgotos coletados e tratados no Brasil, será fundamental ampliar o reaproveitamento do lodo, resíduo gerado no processamento desses efluentes. O reaproveitamento do material se faz necessário não só para aproveitar o seu potencial econômico, que é expressivo, como também evitar a sobrecarga dos aterros sanitários.
O alerta é de Lívia Baldo, especialista em gestão de resíduos e gerente da Tera Ambiental, empresa especializada na valorização e transformação de resíduos orgânicos em fertilizantes agrícolas por meio da compostagem em larga escala.
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Segundo dados do “Panorama de Resíduos Sólidos 2022”, da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o Brasil gerou durante apenas um ano (2021) 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos, sendo 76,1 milhões coletadas.
Destas, 46,4 milhões foram destinadas aos aterros sanitários e 29,7 milhões, lançadas em lixões a céu aberto, que já deveriam ter sido extintos em 2014. É o que previa a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PRNS), lei em vigor desde 2010. Depois de muitos adiamentos, o novo Marco do Saneamento, sancionado em 2020, reinstituiu um cronograma. Metade do lixo produzido no Brasil é orgânico, mas apenas 0,2% é reaproveitado e convertido em adubo.
Reaproveitamento dos resíduos
“Esses dados demonstram a importância de aumentar a capacidade industrial para compostagem, um dos processos mais seguros e eficientes para reaproveitamento de resíduos por transformar passivos ambientais em novos produtos com valor agregado, conforme os preceitos da economia circular”, frisa Lívia.
Um viés grave da questão é que apenas 45% dos esgotos gerados no País são tratados e 55% são despejados na natureza, causando graves danos ambientais. É o que aponta estudo do Instituto Trata Brasil. Outra questão é que, como citado anteriormente, é ínfima a parcela do material processado reaproveitada e transformada em fertilizante.
Assim, segundo Lívia, é prioritário e premente aumentar o volume de lodo destinado à compostagem, pois a maior parte do material, mesmo que não seja despejada na natureza, é destinada aos aterros sanitários. Embora essas estruturas de engenharia tenham controles ambientais adequados, deveriam receber somente rejeitos, ou seja, aquilo que não tem mais potencial de ser reciclado, evitando assim o esgotamento desses espaços.
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Aterros sobrecarregados
Tal necessidade é ainda maior, considerando que a meta do novo Marco do Saneamento é de que, até 2033, 90% dos habitantes brasileiros tenham acesso à coleta e tratamento de esgotos. “Se não houver o reaproveitamento do resíduo gerado desse montante, os aterros sanitários ficarão demasiadamente sobrecarregados. Além disso, não podemos desperdiçar esse material rico em nutrientes para nossos solos”, afirma Lívia Baldo.
Ela lembra que, na esteira do aumento da coleta e tratamento de esgotos, são múltiplos os ganhos da compostagem de resíduos orgânicos, principalmente do lodo de esgoto, para a produção de fertilizantes orgânicos. “Além do desafogamento dos aterros sanitários, promove o reaproveitamento de nutrientes, fortalece a agricultura, auxilia na redução da dependência dos adubos importados, fomenta a economia circular e ainda gera empregos e renda para as cidades”, conclui a gerente da Tera Ambiental.