A SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) tem, em 2023, motivos para celebrar. A instituição foi reconhecida pelas agências da ONU, a Organização das Nações Unidas, como parceira na Década de Restauração de Ecossistemas.
A Década é um movimento liderado pelo Pnuma (Programa da ONU para o Meio Ambiente) e pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e representa um chamado a toda a sociedade, setor público, privado, empresas, organizações, e até indivíduos para atuarem em prol do bem comum e da conservação da natureza, com o objetivo de deter a degradação e proteger e recuperar ecossistemas ao redor do mundo em larga escala.
O projeto que já restaurou 700 hectares de terra na Mata Atlântica
Como a Plant for the Planet, SOS Mata Atlântica e a Apremavi, por exemplo, a SPVS foi uma das instituições a se unir à Década. A entidade integra a categoria “parceiros”.
Com quase 40 anos de atuação em favor do patrimônio natural, tendo como foco o bioma Mata Atlântica e seus ecossistemas associados, a SPVS promete fortalecer os esforços de proteção e recuperação dos ecossistemas, visando frear sua degradação e estimular a restauração, a partir de um conceito amplo envolvendo o restabelecimento tanto da flora quanto da fauna, para contribuir com os objetivos globais.
A Década da Restauração vai de 2021 a 2030, prazo final para o atingimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em uma resolução de 2019, mas iniciada oficialmente pela ONU, em parceria com lideranças da política global, ciência, comunidades, religião e cultura em junho de 2022.
Os ODS são metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral da ONU e abrangem questões de desenvolvimento nos três pilares: ambiental, social e econômico. Incluindo temas como pobreza, fome, saúde, educação, aquecimento global, igualdade de gênero, água, saneamento, energia, urbanização, meio ambiente e justiça social.
Projetos
Clóvis Borges, diretor-executivo da SPVS, lembra que a Restauração de Ecossistemas é parte importante da solução para a crise climática e perda de biodiversidade no Brasil e no mundo. “Esse esforço tem um papel fundamental no alcance da Agenda 2030 e condições de somar, e muito, com o respeito e o cumprimento de acordos internacionais importantes, dos quais o Brasil é signatário”.
O Acordo de Paris, o Programa de Neutralidade da Degradação de Terras (da Convenção de Combate à Desertificação), o Quadro Global para a Biodiversidade da Convenção para a Diversidade Biológica (CDB) – atualmente chamado de “Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework” – e os compromissos assumidos na COP-15, por exemplo, são alguns deles.
Na COP-15, aliás, que ocorreu no Canadá em dezembro de 2022, a ONU anunciou a restauração da Mata Atlântica como uma iniciativa prioritária para receber investimentos em conservação e restauração e o apontou como o mais promissor para trabalhos de restauração no planeta.
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Clóvis também recorda que, há muito tempo, a ciência vem provando que a Terra está próxima de ultrapassar os limites seguros que dão suporte à vida de todas as espécies, incluindo, a nossa. “Estão sendo previstas, e comprovadas, as consequências da degradação ambiental, que passam pela intensificação dos efeitos das mudanças climáticas, degradação do solo, desertificação, poluição, crise hídrica e problemas socioeconômicos, que afetam ainda mais as comunidades e pessoas vulneráveis. A união de esforços é absolutamente fundamental na resistência a essa tendência”, defende o diretor.
Ele ainda destaca que, sem conservação da biodiversidade, não se faz restauração. “Precisamos falar sobre a importância da proteção das áreas naturais como um todo, e não apenas das florestas, quando pensamos em proteção e recuperação de territórios. Temos ecossistêmicos complexos, como campos, mangues, restinga e outros ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica que merecem atenção da comunidade, das empresas e do poder público”, reforça.
Um histórico em prol da conservação da biodiversidade
Com quase 40 anos de atuação em prol do patrimônio natural, a SPVS soma ampla experiência na conservação e recuperação de áreas degradadas. Projetos que desenvolve em parceria com empresas e entidades apoiadoras, como o Conexão Araucária e o JTIBio, conduzidos com o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da JTI (Japan Tobacco International) são cases da entidade.
Enquanto o primeiro é um projeto de restauração ecológica que auxilia produtores de pequenas propriedades rurais em Áreas de Preservação Permanente (APP) de Floresta com Araucária no Sudeste paranaense a atender ao Programa de Regularização Ambiental e a estar em conformidade com o Código Florestal, o segundo integra ações de monitoramento participativo da biodiversidade e incentiva boas práticas de conservação com o objetivo de contribuir com a manutenção e o aumento dos serviços ecossistêmicos nas propriedades rurais.
O Conexão Araucária teve início em 2017 e já restaurou 325 hectares, por meio do plantio de 140 mil mudas de Floresta com Araucária, ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica. Já o JTIBio começou em 2014 e, até janeiro de 2023, contemplou 80 pequenos proprietários rurais do Paraná, em 17 municípios diferentes.
Recuperação da Floresta com Araucária e Restinga
Outra iniciativa também conduzida pela SPVS nos últimos anos, esta envolvendo a Arteris Planalto Sul e Litoral Sul, uma das maiores companhias do setor de concessão de rodovias do Brasil, gerou resultados expressivos para a conservação da Mata Atlântica e ecossistemas associados no Paraná.
De setembro de 2012 a dezembro de 2017, o município de Bocaiúva do Sul (Fazenda Ribeirão das Pedras), recebeu a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Papagaio-de-peito-roxo, de pouco mais de 100 hectares. Foram 76,57 hectares restaurados com 39 espécies nativas de Floresta com Araucária. Mais de 77 mil mudas foram plantadas para atingir esse resultado.
No mesmo período, o monitoramento mensal da área adotada foi feito pela equipe da SPVS, com registros permanentes de fauna e flora. As orientações técnicas de manejo que foram repassadas ao proprietário da área adotada pela empresa também geraram resultados positivos. A RPPN recebeu o nome de “Papagaio-de-peito-roxo” pelo fato de que a espécie, ameaçada de extinção, utiliza a área como fonte de alimentos. Conservada, a região fornece ainda mais condições para a sobrevivência dos papagaios e de outras espécies.
Reservas Naturais SPVS
Outro esforço importante em restauração de ecossistemas é o trabalho conduzido pela SPVS desde a década de 1990, que passa pela experiência da criação e manutenção de três Reservas Naturais no litoral do Paraná, nos municípios de Antonina e Guaraqueçaba.
Foram mais de 19 mil hectares de terras anteriormente arrasadas pelo cultivo de espécies exóticas e búfalos, que até hoje vêm sendo restauradas pela instituição, mantendo, atualmente, uma Floresta Atlântica em estados médio e avançado de conservação.
O volume de 1.500 hectares degradados já foi recuperado a partir da produção de 900 mil mudas nativas. O estoque de carbono dessa área é de cerca de 1,5 milhão de toneladas de Carbono, o que contribui com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e geração de outros serviços ecossistêmicos fundamentais à qualidade da vida humana.
O trabalho executado ao longo das duas últimas décadas, no entanto, é contínuo e de longo prazo. Espécies de fauna e flora que já estavam desaparecendo da região, como a onça pintada – espécie topo de cadeia que sinaliza a qualidade de uma área natural – hoje se manifestam com muito mais frequência nas áreas recuperadas, afinal, esforços de restauração também compreendem a proteção de estágios de conservação mais adiantados.
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Além disso, é outro exemplo de esforços envolvendo restauração o projeto com o FunBio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade), realizado em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) – que se propõe a restaurar cerca de 900 hectares de Mata Atlântica no estado do Paraná, nos limites das Reservas Naturais da SPVS, sendo 720,8 em RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) já constituídas dentro das Reservas Naturais da SPVS e 165,5 em áreas de ainda não consolidadas como Unidades de Conservação mas estão compreendidas nos limites das Reservas.
O Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica é um projeto do governo brasileiro, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, no âmbito da Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima (IKI) do Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza, Construção e Segurança Nuclear da Alemanha (BMUB), com apoio financeiro através do KfW Entwicklungsbank (Banco Alemão de Desenvolvimento), por intermédio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO
Veja dados relacionados às Reservas Naturais da SPVS:
- 500 hectares de áreas degradadas restauradas;
- Cerca de 900 mil mudas produzidas;
- Mais de 800 espécies da flora registradas em seus ambientes vegetacionais;
- Mais de 200 espécies de aves registradas em suas dependências e região do entorno;
- Mais de 50 mamíferos identificados em suas dependências e região do entorno;
- Produção de água para o município de Antonina (cerca de 19 mil habitantes);
- Arrecadação de cerca de 4,5 milhões por ano de ICMS Ecológico destinados aos municípios de Antonina e Guaraqueçaba, no litoral do Paraná;
- Em torno de 1,5 milhões de toneladas de carbono estocados em seus ambientes florestais.
Para saber mais sobre essa história, acesse o livro sobre as reservas da SPVS