O desmatamento está cada vez mais na agenda dos investidores, de acordo com um relatório recente que o JP Morgan distribuiu aos clientes, informa Natalia Viri, do site Capital Reset.
São 68 páginas praticamente desenhando os riscos financeiros relacionados ao desmatamento. “Conforme os ativos sob gestão ESG continuem crescendo, acreditamos que uma companhia que tenha exposição significativa a commodities florestais de risco e ignora os riscos relacionados pode sofrer um desconto proporcional no valuation”, escrevem os autores do relatório, produzido em conjunto pela equipe de ESG e sustentabilidade da matriz e pelos analistas de alimentos, bebidas e agronegócio da América Latina.
A fim de ajudar no monitoramento e gestão desses riscos, o banco criou um guia, com uma lista de pontos de atenção para que investidores possam avaliar como as empresas lidam com o tema e se engajar com potenciais investidas.
O foco é nas empresas intensivas nas chamadas Forest Risk Commodities, as FRCs, no jargão do setor. Borracha, milho, cacau, café, óleo de palma (azeite de dendê), carne bovina e soja são as sete principais FRCs. Delas, as três últimas são as que mais contribuem para o desmatamento em termos globais — sendo que soja e carne bovina têm um peso bastante relevante no Brasil.
Os nove principais tópicos da recomendação são:
1. Identificar commodities de risco: Identificar as FRCs a que a companhia está exposta e sua representatividade, tanto na companhia (como porcentagem do custo das matérias-primas), como no mercado total do insumo em questão.
2. As palavras importam: Nos compromissos relacionados ao desmatamento, as definições dos termos ‘florestas’, ‘desmatamento’, etc, podem variar de companhia para companhia, aponta o banco. “Recomendamos prestar atenção aos termos usados e buscar detalhes, na medida em que isso pode influenciar o escopo e as ambições dos compromissos”, escrevem os analistas. Atenção especial a:
- Desmatamento zero vs. Desmatamento net-zero: Desmatamento zero significa que não haverá mudança de uso da terra em florestas já existentes. No net-zero, a mudança no uso da terra pode ser “compensada”, replantando árvores em outro local — o que, por sua vez, demanda prestar atenção em particular aos créditos e projetos que são usados para fazer essa compensação.
- Desmatamento legal vs. desmatamento ilegal: Compromissos que envolvam apenas o combate ao desmatamento ilegal normalmente não são suficientes.
3. Compromissos sobre emissões de gases de efeito estufa e relacionados ao clima: Companhias com metas de redução de gases de efeito estufa do chamado escopo 3, que incluem a cadeia de valor, estão mais propensas a gerenciar riscos relacionados ao desmatamento.
4. Padrões e certificações: O progresso nos compromissos de desmatamento normalmente são reportados de acordo com certificações — e é importante verificar o escopo, a autenticidade e a independência delas. Certas certificações (como a RSPO, de óleo de palma) têm rótulos distintos para graus diferentes de confiança e garantia.
5. Escopo dos compromissos
- Quais commodities são consideradas?
- O compromisso se aplica a todas as geografias nas quais a companhia opera?
- Até que ponto os fornecedores indiretos são considerados?
6. É pra quando? As políticas de desmatamento devem vir acompanhadas com as respectivas datas em que elas vão ser alcançadas, com compromissos que definem um KPI, um ano base, um valor no ano base, o ano-alvo, a meta de valor no ano-alvo.
7. Divulgação do progresso: Políticas de desmatamento devem se traduzir em compromissos de entregas ao longo do tempo e a companhia deve divulgar publicamente e regularmente progressos quantificáveis em relação a esses compromissos.
8. Monitoramento e remediação: As empresas devem monitorar e verificar o compliance do fornecedor em relação a seu compromisso de não-desmatamento e ter protocolos claros para fornecedores que não estão em acordo. As ferramentas utilizadas para monitorar desmatamento têm de ser altamente eficientes e os dados devem ser precisos.
9. Investimentos e custos relacionados: Para ajudar os investidores a avaliar a materialidade financeira dos riscos relacionados ao desmatamento e sua gestão, as companhias devem divulgar seus esforços relacionados a desmatamento em uma unidade monetária, como os custos adicionais com certificações sustentáveis ou investimento em tecnologias de monitoramento, escreve o banco. Os analistas recomendam questionar, em particular, o payback do investimento e os benefícios esperados de tais políticas e apontam que investimentos em práticas de agricultura regenerativa devem ser considerados.
Recentemente, demonstramos aqui no Notícia Sustentável que a sustentabilidade tem sido cada vez mais decisiva na condução dos negócios.